Ok, vamos lá. Pega o café, senta aí que a conversa vai ser boa. Porque hoje a gente vai desempacotar um dos termos mais confusos, mais amados e, vamos ser honestos, um dos mais odiados por muitos.
Confesso: com uns 20 e poucos anos, na faculdade, a palavra “conservador” me dava arrepios. Na minha cabeça, a imagem era clara: um tiozão do zap, com a foto de perfil dentro do carro, reclamando que no tempo dele tudo era melhor.
Muito preconceito da minha parte? Com certeza.
Mas a culpa não era só minha, né? A verdade é que ninguém nunca se deu ao trabalho de explicar o que é conservadorismo de verdade.
Se fosse só isso, eu estaria a quilômetros de distância, mas não é bem como dizem por ai.
Quando você começa a se preocupar mais com o futuro, percebe que talvez, só talvez, aquelas ideias de “mudar o mundo do zero” que pareciam geniais aos 19 anos talvez tenham alguns… efeitos colaterais.
Foi aí que minha jornada começou.
E o que eu descobri é que o conservadorismo é menos sobre o que você quer proibir e muito mais sobre o que você quer conservar.

1- Primeiramente: Vamos Tirar o Entulho da Frente
Antes de mais nada, precisamos separar o joio do trigo. Conservadorismo NÃO É:
- Ser reacionário: O reacionário quer voltar a um passado idealizado que, na maioria das vezes, nunca existiu.
Ele odeia o presente, o conservador vive no presente, mas com um olho no passado e outro no futuro. - Ser contra mudanças: Essa é a maior fake news, o conservador não é contra a mudança, ele é contra a demolição.
Ele prefere uma reforma bem pensada a colocar a casa inteira abaixo pra construir uma nova que pode desabar na primeira chuva. - Uma ideologia engessada: Diferente do socialismo ou do liberalismo radical, não existe um “manual do conservador” com 10 mandamentos.
É mais um temperamento, uma disposição, uma forma de enxergar o mundo.
Entendido isso? Ótimo. Agora podemos começar de verdade.
2- O Coração da Coisa: A Gratidão e a Prudência
Se eu tivesse que resumir a alma do conservadorismo em duas palavras, elas seriam gratidão e prudência.
Pensa comigo, você nasceu numa casa e ela não é perfeita.
Tem goteira no quarto, a pintura da sala tá descascando, mas ela tem um teto, paredes que te protegem do frio, e uma fundação sólida que seus avós construíram com muito suor.
O que uma pessoa sensata faz?
Ela não chega com uma marreta gritando “TUDO ISSO ESTÁ ERRADO, VAMOS DESTRUIR E CONSTRUIR UMA CASA NOVA E PERFEITA!”.
Não, uma pessoa sensata primeiro agradece por ter um teto sobre a cabeça.
Depois, com cuidado, ela conserta a goteira, pinta a sala, e reforça o que precisa ser reforçado.
Essa casa é a nossa civilização.
O conservador sensato é e deve ser esse morador grato e prudente, ele olha para as instituições, os costumes, a moral, a família, o Estado de Direito, sim ele foi uma conquista.
E mesmo vendo todos os defeitos, sente uma profunda gratidão por essas coisas existirem.
Porque ele sabe que elas são o que nos separa da barbárie, elas são a fundação.
E com fundação não se brinca.
3- Estudar é Preciso e o Medo Saudável das Utopias
Lembro de um professor no ensino médio, um cara gente boa, mas que vivia num mundo de sonhos.
Ele defendia umas ideias de sociedade “perfeita” onde tudo seria dividido igualmente e todos seriam felizes para sempre, parecia lindo no papel.
O problema é que o conservadorismo te ensina a ter um pé atrás com “soluções perfeitas”. A história é um cemitério de utopias que terminaram em desastre.
A Revolução Francesa, que prometia “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, acabou no Terror da guilhotina.
A Revolução Russa, que prometia o paraíso dos trabalhadores, criou um dos regimes mais sanguinários da história.
O filósofo britânico Edmund Burke, considerado o pai do conservadorismo moderno, já alertava sobre isso lá no século XVIII.
Ele criticou a Revolução Francesa não por seus ideais, mas por sua arrogância, a arrogância de achar que uma geração de “iluminados” poderia simplesmente apagar séculos de experiência, tradição e sabedoria acumulada e criar algo melhor do zero.
“A fúria e o frenesi de uma multidão não são menos assustadores, e podem ser ainda piores, do que a fúria e o frenesi de um único tirano.” – Edmund Burke
Um conservador olha para esses projetos de engenharia social e pensa: “Calma lá, campeão. Vamos com calma”.
Ele entende que a natureza humana é complexa e imperfeita, e é fato, tentar forçar a humanidade a caber num molde ideológico perfeito geralmente não acaba bem.
É o que o economista e filósofo Thomas Sowell chama de visão “trágica” (ou realista) do mundo, em oposição à visão “messiânica” (ou utópica).
O conservadorismo parte da premissa de que não existe paraíso na Terra, e que tentar criá-lo à força pode, na verdade, nos levar para o inferno.
Pesado, né? Mas faz um sentido danado quando você para pra pensar.
Por isso que quando somos mais jovens a tendencia é sempre irmos pelo caminho mais fácil, é necessário estudo para amadurecer.

4- Os Pilares: Onde o Conservadorismo se Apoia
Então, se não é uma ideologia, o que é conservadorismo na prática? É uma abordagem à vida e à política que se baseia em alguns pilares. Na minha opinião, os principais são estes:
- Liberdade Individual com Responsabilidade: Sim, conservadores amam a liberdade. Mas não a liberdade de fazer o que der na telha sem arcar com as consequências. É a liberdade que anda de mãos dadas com o dever, a honra e a responsabilidade pelas próprias escolhas. Sua liberdade termina onde começa a do outro, e todos nós temos um dever para com a comunidade que nos permitiu ser livres.
- A Tradição como um “Voto dos Mortos”: A tradição não é a adoração das cinzas, mas a preservação do fogo. É a sabedoria acumulada de inúmeras gerações que enfrentaram os mesmos problemas que nós. Ignorar a tradição é como entrar numa floresta escura e jogar o mapa fora porque “ele é velho”. A tradição é o nosso mapa.
- Governo Limitado: O conservador desconfia de concentrações de poder, especialmente do poder estatal. Ele acredita que o governo deve ser forte o suficiente para garantir a segurança e a ordem, mas limitado o suficiente para não esmagar a liberdade individual e a sociedade civil (família, igreja, associações, etc.).
- Prudência nas Mudanças: Como já falamos, a mudança é bem-vinda, desde que seja gradual, orgânica e testada. O conservadorismo é o “freio de emergência” da sociedade, que impede o trem do “progresso” de descarrilar numa curva perigosa.
5- Mas e a Economia? E os Costumes?
É aqui que a coisa fica interessante e onde os diferentes “tipos” de conservadores aparecem.
Na economia, a maioria dos conservadores tende a defender o livre mercado, a propriedade privada e o capitalismo, não por uma questão de ganância, mas por entenderem que esse é o sistema que, historicamente, mais gerou prosperidade e tirou pessoas da miséria. Simples assim. Um estudo do Fraser Institute, por exemplo, mostra consistentemente uma forte correlação entre liberdade econômica e bem-estar humano. Eles não acham que o capitalismo é perfeito, mas o consideram a melhor e mais imperfeita opção que temos.
Nos costumes, o espectro é mais amplo. Existem os conservadores mais liberais (ou libertários), que focam principalmente na liberdade individual e econômica e não se importam tanto com questões de costumes. E existem os conservadores sociais, que dão um peso maior à importância da família tradicional, da religião e da moralidade como pilares para a ordem social.
E tá tudo bem. Eles não precisam concordar em tudo. Como eu disse, não é um clube com carteirinha e regras fixas.
6- Ser Conservador em um Mundo que Grita “MUDE!”
No fim das contas, entender o que é conservadorismo é entender que ele é, em sua essência, um ato de amor.
É o amor pelas coisas boas que herdamos e o desejo de passá-las adiante, talvez um pouco melhores, para a próxima geração.
É a humildade de reconhecer que não somos mais espertos que todas as gerações que vieram antes de nós.
Ser conservador, especialmente quando se é novo, num mundo que te pressiona a abraçar cada nova “verdade” sem questionar, é um ato de rebeldia silenciosa.
É escolher a jardinagem em vez da demolição, é entender que as raízes profundas são o que sustentam as árvores mais altas.
Não é sobre ser velho, é sobre querer envelhecer bem.
E, honestamente, não vejo nada de errado nisso.
Perguntas Frequentes sobre Conservadorismo
1. Conservadorismo é a mesma coisa que ser de “direita”?
Geralmente, sim, o conservadorismo está no espectro da direita. Mas a “direita” é um guarda-chuva enorme que inclui também libertários e outras vertentes. O conservadorismo é uma filosofia específica dentro desse espectro, com foco na tradição, prudência e instituições.
2. Um conservador pode ser a favor de pautas ambientais?
Com certeza! O filósofo Roger Scruton, por exemplo, escreveu extensivamente sobre um “conservadorismo verde”. A lógica é simples: o que é mais conservador do que querer conservar o meio ambiente, a beleza natural e os recursos para as futuras gerações? A diferença está na abordagem: conservadores tendem a preferir soluções de mercado e responsabilidade local em vez de grandes regulações estatais globais.
3. O conservadorismo é contra a ciência?
De forma alguma. O conservadorismo valoriza a razão, a evidência e o método científico. O que ele questiona não é a ciência, mas o “cientificismo”: a ideia de que a ciência pode resolver todos os problemas humanos, incluindo os morais e espirituais, e a tendência de alguns setores de transformar teorias científicas em dogmas políticos inquestionáveis.
4. Preciso ser religioso para ser conservador?
Não necessariamente, mas historicamente há uma forte conexão. Muitos conservadores veem a religião (especialmente a tradição judaico-cristã no Ocidente) como a principal fonte dos valores morais que sustentam a sociedade. No entanto, existem muitos conservadores ateus ou agnósticos que chegam às mesmas conclusões por meio da filosofia, da história ou da simples observação da natureza humana.
5. Qual a principal diferença entre um conservador e um libertário?
Essa é clássica! A forma mais simples de ver é: ambos amam a liberdade, mas discordam sobre o que é necessário para mantê-la. O libertário tende a ver a liberdade como o valor supremo e único; qualquer coisa que a restrinja (seja o Estado ou a tradição) é ruim. O conservador acredita que a liberdade precisa de “guard-rails” para não se autodestruir; ele vê a tradição, a moral, a família e as instituições como esses guard-rails essenciais que dão a ordem necessária para que a verdadeira liberdade possa florescer.